sábado, 8 de setembro de 2012

FASE 7 - 2011 - Argentina


Mais uma admirável incursão do cinema argentino no gênero fantástico, “Fase 7” consegue, com pouquíssimos recursos, bom humor e despretensão quase amadora, resgatar aquela atmosfera filme B/pós-apocalipse tão explorada nas décadas de 70/80, ainda que sem o gore exagerado dos recentes grindhouses americanos.

O enredo é simples: um edifício em Buenos Aires é colocado em quarentena após um de seus moradores morrer vítima de um vírus desconhecido (se você pensou “mais uma cópia do espanhol “REC”, saiba que as semelhanças terminam por aqui”). Em “Fase 7”, o vírus, a doença ou mesmo os infectados são apenas coadjuvantes que pouco aparecem. Todo o drama, a ação e o horror gira em torno do caos e da loucura resultante do isolamento e da escassez de mantimentos. O roteiro, escrito por Nicolás Goldbart (responsável também pela função de diretor), parte de situações consideradas clichês do gênero, se reinventa com uma boa dose de humor (sem cair no pastelão) e encerra com um grande e clássico clichê (como veremos um pouco mais abaixo).

Elogios também para o elenco, responsável em partes pela harmonia desta produção argentina. Daniel Hendler (do drama brasileiro “Cabeça a Prêmio” (2009)) e Jasmin Stuart vivem um casal típico à espera do primeiro filho. Hendler interpreta Coco, o marido preguiçoso, que foge de suas responsabilidades e sonha em mudar-se para o interior, mas acaba envolvido numa trama violenta que lhe transforma em herói. Pipi, a esposa intransigente que resolve todos os problemas da família; no entanto, apesar de metida a esperta, nem imagina a encrenca que o marido se meteu. Além da ótima interpretação do protagonista Coco – destaque para a sequência frente ao espelho em que ele reencena a famosa cena de De Niro em “Táxi Driver” (1976), temos ainda a presença marcante do veterano Federico Luppi (de “O Labirinto do Fauno” (2006)) vivendo um “vovozinho” com aparência inofensiva, mas que enlouqueceu a ponto de exterminar qualquer um que cruze seu caminho.

Outra boa surpresa é a atuação de Yayo Guridi interpretando um personagem que serve como fio condutor do enredo: o famigerado Horácio, um vizinho paranoico atormentado por teorias da conspiração, que ao longo dos anos montou um pequeno arsenal em seu apartamento e transformou o seu carro em um blindado de guerra – tudo à espera do fim do mundo. Em determinado momento, Horácio entrega a Coco uma fita VHS revelando o significado do termo Fase 7 (por curiosidade Fase 6 seria uma pandemia): arquitetada pela Nova Ordem Mundial, seria a redução controlada da população (no caso do filme, a disseminação de um poderoso vírus), parte de um plano das potências para conter a superpopulação mundial numa eventual crise das economias mundiais.

Voltando ao roteiro de Nicolás Goldbart, ele tem ainda o mérito de desenvolver com inteligência os personagens em um ritmo crescente, mas contido (nada daquela loucura padrão americana); transformando com maestria simples cidadãos em assassinos impiedosos ou heróis. O desfecho pessimista, mas aberto, com Hendler e sua família fugindo no blindado de Horácio em ruas desertas e prédios abandonados, remete as produções do gênero rodadas nos anos 80. Aliás, se há uma influência visível no trabalho de Goldbart em “Fase 7“, esta influência é da obra do cineasta americano John Carpenter, especialmente em produções emblemáticas como “Eles Vivem“ (1988),  “Fuga de Nova York” (1981) e “Assalto a 13ª DP” (1976). A própria trilha sonora de Guillermo Guareschi é uma deliciosa releitura das clássicas e marcantes composições de Carpenter .

Já entre os produtores executivos, um nome é conhecido internacionalmente: Steve Scheneider, novaiorquino envolvido nas produções de “Atividade Paranormal“ (2007), “Sobrenatural“ (2011) e “A Filha do Mal“ (2012); Outra curiosidade é fato do site americano Bloody Disgusting ter apadrinhado a distribuição internacional do filme.

Mas infelizmente não bastou “Fase 7” ter recebido boas críticas de sites gringos ou ter ganho o prêmio de melhor roteiro do Festival Internacional de Cinema Fantástico de Sitges, em 2010. A produção argentina ainda continua inédita por aqui, seja nos cinemas ou no mercado de vídeo.

Inegável é que “Fase 7” cumpra muito bem a função de cartão de visitas para o cinema fantástico rodado em solo argentino, que mesmo sem qualquer tradição no gênero, apresentou nos últimos anos algumas obras de importância internacional, como o mais do que merecido vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro “O Segredo dos Seus Olhos” (2009). Outro longa que merece uma conferida é o divertido “Fantasma de Buenos Aires” (2008).

Enfim, “Fase 7” supera a maioria das produções similares americanas em qualidade e em diversão; e mesmo não sendo revolucionário ou uma obra-prima, pode servir de exemplo para os produtores tupiniquins: afinal não é só de desgraça e de miséria que respira o cinema. (boca do inferno)

Ficha Técnica:
Título Original: FASE 7
Diretor: Nicolás Goldbart 
Gênero: Comédia/Humor Negro/Thriller 
País: Argentina
Áudio: Espanhol
Ano: 2011


Links para download:

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